28 de março de 2011

Iron Maiden: show de horrores na HSBC Arena

Frente do HSBC Arena
A ideia era escrever sobre o show do Iron Maiden, programado para ontem na HSBC Arena, no Rio de Janeiro. Mas o show não aconteceu. Durou apenas uma música. Certamente a apresentação mais rápida da história da Donzela de Ferro. Não tem muito tempo, eu escrevi um texto sobre a organização ridícula do show da Amy Winehouse na mesma Arena. Infelizmente, terei que repetir a ladainha novamente.


Mesmo em um domingo, é impossível chegar à Arena em menos de uma hora - e isso porque moro no mesmo bairro. Depois de estacionar o carro, você anda um quilômetro até chegar ao local do show. Tudo bem, reclamar disso é frescura. Show de rock tem dessas coisas. Mas você já demorou uma hora e meia para entrar em um show? Eu não, e olha que já vi show no Maracanã para quase 150 mil pessoas, e isso sem contar os do Morumbi, do Wembley Stadium e da Arena de Amsterdã, cuja única semelhança com a Arena do Rio é o nome, graças a Deus.

Era uma fila de uns dois quilômetros, que deve ter andado cem metros nos primeiros 85 minutos. Nos outros cinco, eu já estava dentro da Arena. Sem revista nenhuma, porque, óbvio, a produção teve que liberar logo o público, antes que acontecesse uma catástrofe.

Lá dentro, os mesmos problemas de sempre. Fila para banheiros, as dependências do local caindo aos pedaços e tábuas de madeira ridículas e perigosas para cobrir o chão da Arena. E a tal da pista VIP, que custou 400 reais (e mais taxa de inconveniência), ocupava 70% da Arena. Nunca vi algo tão tosco na minha vida.

O show de abertura quase ninguém conseguiu assistir. E o do Iron Maiden, nem a banda conseguiu fazer. Na metade da primeira (e única) música do roteiro, "The final frontier", o alambrado que separava a plateia do palco foi derrubado. Aí você me diz que a plateia é mal educada e tal. Mas não. Bruce Dickinson não cantou nem por dois minutos. O restante da banda, no entanto, tocou a canção inteira. Ao final, o vocalista disse que a banda sairia do palco para consertar o alambrado. Uma meia hora depois, ele voltou com a tradutora para informar que nunca tinha visto um alambrado tão tosco em toda a sua carreira (só trinta anos), e que não tinha a mínima condição de continuar o espetáculo. Nem ouvi a explicação inteira. Fui embora antes de o público começar a depredar a Arena - o que realmente acabou acontecendo. Antes, ainda conversei com um segurança. Ele me disse apenas uma frase, que reproduzo aqui: "Esse lugar não tem a mínima condição de receber essa quantidade de gente." Não cabia nem mais um mosquito na Arena, mas os ingressos estavam sendo vendidos até a hora em que o show começou.

Por que o Rio de Janeiro, volta e meia, tem problemas para organizar um show? Será que os produtores pensam que é só vender ingresso (pelos olhos da cara) e fica tudo por isso mesmo? A gente é tratado como gado e ninguém faz nada. Como diz uma letra dos Engenheiros do Hawaii, a gente paga ingresso pra levar porrada. Os fãs reclamam, esperneiam frente às câmeras de televisão, e tudo fica por isso mesmo. O Ministério Público desperdiça o seu tempo em besteiras (lugares marcados no cinema, como conseguia viver sem isso?), só aguardando uma verdadeira catástrofe acontecer. E um dia ela vai acontecer. A gente acha que não; que tudo se resolve na hora. Mas não custa lembrar as oito pessoas que morreram em um show do Pearl Jam num festival na Dinamarca, em 2000.

Na Arena, eu vi várias pessoas com escoriações, que caíram no chão quando o alambrado cedeu. E aí? Se elas processarem a empresa organizadora, quanto ganharão de indenização? O valor do ingresso? E cadê o dano punitivo? Se um juiz condenasse essa empresa a pagar cem mil reais para cada fã lesado, eu duvido que uma palhaçada dessa voltasse a acontecer. Além de pagar, a empresa tinha que ter o seu registro devidamente cassado, para nunca mais poder organizar um show, e não colocar a vida das pessoas em risco.

E o Iron Maiden é culpado? De certa forma, entendo que sim. Acho que os artistas internacionais tinham que se informar melhor sobre as empresas que organizam os seus shows aqui no Brasil. O U2, por exemplo, estava prestes a fechar um quarto show no Morumbi no mês que vem. Desistiu por causa da desorganização na venda dos ingressos. Pelo menos tomou uma atitude, ainda que tardia.

Se eu fosse o Iron Maiden, terminaria a turnê pelo Brasil (ainda faltam quatro shows), e depois voltaria ao Rio de Janeiro, para se apresentar em outro lugar (Apoteose, Engenhão ou o que quer que fosse) que não a HSBC Arena. O local provou que não tem a mínima condição de receber um show do porte do Iron Maiden. E os organizadores provaram que não tem a mínima condição de organizar nem um show do Trio Ternura no Paivense.
 
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